quarta-feira

Rasgo as ruas que atravesso. Sujo a roupa com tal suor suado suando fortemente, como quem liberta toxinas e só o quer fazer: libertar toxinas. Liberto a raiva, limpo o horror, apanho a felicidade. Mas não. Pára, recomeça. Rasgo a roupa. Sujo as ruas que atravesso com tal suor suado suando fortemente, como quem liberta toxinas e só o quer fazer: libertar raiva. Liberto as toxinas, limpo a felicidade, apanho o horror. E isso sim. Ciclo vicioso, ciclo sem fim. "Today was gonna be the day, but they'll never throw it back to you. By now you should have somehow realized what you're not to do". Mas faço-o. All over again. Sento-me, deito-me, ponho-me de pernas para o ar e cabeça para baixo. E às vezes estou bem umas horas, mas acaba sempre por voltar tudo ao mesmo. E eu já tinha percebido, mas negaram-me. E eu acreditei.
Pára, recomeça. Escreve a história de novo. Disco riscado. Pedras soltas. Pés descalços. Mãos desatadas. Abraços perdidos. Beijos roubados. E eu quero cometer um erro. Quero deslizar-me. E talvez o vá fazer. Se tiver que ser, será. Vou deixar-me ir, não me vou prender, não me vou agarrar. Que a maré me leve, contra as rochas, para outros mundos, outros continentes. Se eu der à costa, azar. Se eu nunca mais for encontrado, perfeito. Se a história não puder ser decidida por mim, péssimo. E não pode.
"O jantar está pronto!". Mas eu não quero jantar, e o jantar é sopa comprada no self-service. In fact, queria ter um gira-discos. Assim jantava todos os dias um "Dark Side of The Moon", um "Master of Reality". E em dias de festa jantava, numa aparelhagem, um "The Bends", um "Ok Computer", um "Amnesiac", um "Kid A", um "Hail to the Tief", um "In Rainbows". Sei lá. Talvez nem jantasse de todo. Talvez não me alimentasse. Ou alimentava, mas continuava com as dores de estômago que tenho tido. Porque a verdade é: eu não tenho comido nada de jeito.
Vamos. Pára, recomeça. Limpo o suor, limpo as lágrimas que me escondem no escuro. Salto para o mundo. Salto o mais alto (im)possível. Oh, como eu queria secar-me. Mas está avariado. Tudo em mim está avariado. Todos os mecanismos, tudo. Está tudo descontrolado. E chega. Pára, recomeça, e não olha para trás, porque desta vez vai ser diferente. Seja com, ou sem ela.

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