sexta-feira


Passaram 2 semanas. Apenas 14 dias desde a morte dela, desde o dia em que ela o deixou só, a enfrentar o mundo que lhe jurava dar e enfrentar em conjunto, até que ambos ficassem sem dentes e com cabelo branco.
Ele olha para o relógio. Do relógio, vira os olhos, momentaneamente, para a fotografia que poisa sobre a sua mesinha de cabeceira, mas o seu olhar não fica lá preso. Olha para o telemóvel, procura um número e telefona.
- Hey.
- Hey - respondem do outro lado.
- Como estás?
- Do you wanna come over?
A outra pessoa convida-o a ele a ir a casa dela. E quando ele lá chega, toca à campainha, e espera apenas 2 segundos para que lhe abram a porta. Depressa ela salta para os seus braços, e ele não resiste à tentação. Levanta a cara dela, beija-a. Fecha a porta atrás de si, leva-a ao quarto, a primeira porta de lado direito. O chão de madeira não ousa pronunciar qualquer tipo de som. Ele deita-a na cama, ela deixa-se cair em cima dos lençóis. Ele tira-lhe cuidadosamente a camisola do pijama, ela arranca-lhe a t-shirt. Ele tira-lhe as calças do pijama, ela atira com o cinto dele para o pé da janela que dá para a varanda. Ele ama-a umas horas, ela ama-o a vida inteira. E por baixo dos lençóis ele envolve-se com ela, sem pensar duas vezes. E talvez tenha sido o erro, talvez ele devesse ter pensado duas vezes.
O relógio do telemóvel dele marca 2 horas da noite. Ela dorme, sobre a almofada, feliz por tê-lo, finalmente, a seu lado. Ele olha-a a dormir e começa, então, a pensar se agiu bem ou se cometeu um erro fatal. Fecha, por fim os olhos, e espera que a manhã lhe dê a resposta que ele procura.
7 horas da manhã. O rádio dela desperta. "Não desistas de mim. Não te percas agora. Não desistas de mim. A noite ainda demora". E ele acorda. E levanta-se fugazmente para desligar o rádio, porque ele não esperava acordar com a resposta a soar-lhe aos ouvidos.
Pega na sua roupa, veste-se num ápice e precipita-se sobre a porta do quarto dela. Ele não queria, mas ela acorda. Ela pergunta-lhe porque parte ele, tão depressa. Ela pergunta-lhe porque parte ele, sem dizer nada. Ela pergunta-lhe porque parte ele, de todo.
E ele apenas responde: "Desculpa".
E sai de casa dela.
Ok, desisto.
Sempre pensei que me estava a escapar alguma coisa, e afinal tinha razão. Agora já sei o que é.

quinta-feira

Um dia, ela estava em baixo. Tinha saudades dele. E decidiu queimar-se viva. "Wait in the fire, wait in the fire" ouvia e cantava ela. Queria morrer a ouvir música, e essa era perfeita para a ocasião. E o fogo começava a pegar-se à roupa dela. Mas ela não desistia. "Wait in the fire, wait in the fire". E ela esperava, como dizia a música, entre chamas que a cercavam cada vez mais furiosamente. "There's the moon asking to stay, long enough for the clouds to fly me away". A música fazia tanto sentido. Mas nem lua se via, nem as nuvens a levavam.
O fumo entrava-lhe pelas narinas e seguia até aos pulmões. A tosse veio e, com ela, a mão à frente da cara a tentar impedir o fumo de a matar. "Wait in the fire, wiat in the fire". Ela tinha que morrer com o fogo, por causa do fogo. "Wait in the fire, wait in the fire!". E ela começava a não conseguir ver. E depois, as tonturas. E caiu, no chão, desmaiada, tendo o cérebro ainda a pedir pelo fogo no seu corpo.
E de repente, lá ao longe, ouviu-se uma porta a abrir. E a música muda. Ouve-se "Come on baby, light my fire".
E ela podia estar meio adormecida, mas esta também fazia sentido. Era ele que a ia queimar. Aquele fogo era ele. Ou o amor que havia entre eles. E, de repente, alguém pega nela, passa as chamas, chamusca a sua roupa (não a dela, porque a ela protege-a como se ela fosse o mundo) e leva-a lá para fora.
E ela, abre os olhos, tosse um pouco e diz: "Eu sabia que virias por mim, amor. Sabia que me salvarias." E inclina a cabeça para o beijar. Ele faz o mesmo, e eles beijam-se. Mas uma última vez. Porque ele chegou tarde, e ela não resistiu. Ela não resistiu às chamas, ao fogo. Ela não resistiu ao amor. Ela não resistiu a ele.
E ele chora, chora com a esperança que as lágrimas tenham efeito curativo. Chora com a esperança que as lágrimas a tragam de volta. Chora gotas de sal para cima dela. Mas ela não reage. Ele chegou demasiado tarde.
E ele, por fim, e antes de lhe dizer que a ama, apesar de saber que ela já não o ouve, diz: "Where was you're mind?".

domingo

E isto não quer dizer nada.

Não gosto de desistir. E não o vou fazer agora. Juro que não o vou fazer. Mas se me perguntarem se eu acho que... eu digo que não. E não tem mal, eu já esperava isso. E por outro lado, era mesmo difícil. Eu gosto de desafios, mas este não tem solução.
E sim, pode ser que hajam surpresas. Muitas vezes há surpresas. Eu já não espero uma, mas quem sabe. Ela pode sempre vir, e a qualquer momento. É continuar a esperar, pois só o tempo dirá. Ainda não há dados suficientes para formular a hipótese.
Se este mundo é real? Talvez seja. E eu sinto que estou preso, e 3/4 de mim querem continuar atrás das grades, mas 1/4 quer sair, ser liberto ou preparar um motim. Mas os 3/4 estão no comando, e eu não vou deixar-me sair.
E este post não quer dizer nada. Frases absolutamente random. Ou talvez seja eu a deixar os meus dedos escrever por mim. Talvez seja eu a mostrar fraquezas, e a mostrar que por um lado quero voar, por outro quero que me cortem as asas. Seja como for, eu vou estar aqui, à espera. À espera que o tempo me dê razão ou me surpreenda.