segunda-feira

#3

Escrito a 19 de Março de 2011

A lua ergue-se lá no alto, confiante de que o seu majestoso brilho servirá de conforto àqueles que não o encontram em outro qualquer lado. Bebe cerveja, enquanto festeja a maior proximidade da Terra dos últimos 20 anos com as estrelas. Não imagina ela o sofrimento que paira sobre o planeta azul, pois a proximidade ainda não é suficiente.
O amor platónico que se agregou a estes dois é tão maior que qualquer outra coisa. Há quantos milhares de milhões de anos esta paixão dura. Nunca se encontraram, contudo continuam a sentir-se atraídos um pelo o outro. Nunca na nua carne da Terra a Lua pode tocar, ou vice-versa. Nunca se poderam beijar. Mas continuam atraídos.
Todas as noites a Lua cozinha para a Terra, à espera que ela queira jantar, à luz das estrelas. Mas não. A Terra não pode. E a Lua não faz mais porque sabe que ela própria também não pode. Porque as leis da Física não deixam. E não se devem contrariar as leis da Física. Estúpidas leis que privam amor. Ao mesmo tempo que aproximam, repelem. E não chamemos nomes a Newton, ou a outros como ele. A culpa não é de quem as descobre, é de quem as cria. Maldito maquiavélico universo ganancioso.
E hoje, a Lua, lá no seu canto, pega em caneta, escreve uma mensagem à Terra, e faz um aviãozinho de papel. "Espero encontrar-te em breve. Amo-te."
Cessa-me o bater do coração. Respiração ofegante. Empurra contra o peito uma fotografia. Engole a seco. Puxa os cabelos, arranha os braços. Morde o lábio, pontapeia o vazio. Pára. Olha lá para fora, pela janela. Ninguém está tão mal com a vida nem sofre tanto por amor como a Terra e a Lua.
Limito-me a espreitar, a agarrar os joelhos junto do queixo, pôr o volume da música no máximo e esperar pelo vento. Porque o vento não pára de soprar. Como a Lua e a Terra não param de se amar.