sexta-feira

First, quero pedir à Karma Police para me prender.

Vou ao armário. Não tiro o primeiro copo que está à minha frente. Procuro bem, e escolho aquele que me parece melhor. Bebo por ele durante semanas. A cada dia que passa, vou gostando mais e mais do copo. Tornamo-nos inseparáveis. A dada altura, dou conta que ele não estava como eu pensava. Tinha uma racha. E dou conta disto quando sinto o meu lábio a doer, quando sinto gotículas de sangue a pingarem-me para a "contra-palma" da mão. Limpo a boca. Viro-me para o copo que escolhi e digo: "After all, you're just as damaged as me, aren't ya?"
Sim, há pessoas que arranjam metáforas estranhas. Eu talvez seja uma delas. Mas este copo foi escolhido porque era especial. E eu reparei que era especial logo ao início. E escolhi-o, eliminando todos os outros como hipóteses. E já lá vão 104 dias. E eu pergunto-me se estará na altura de lavar este copo. Já bebi por ele tantas vezes. Questiono-me como quem questiona "ser ou não ser, eis a questão" se será culpa minha, se eu rachei este dito copo e não dei conta.
Serei espada, serei punhal, serei leão faminto? Não, apaga. Escreve outra vez. Reescreve a história. Desta vez faz tudo perfeito. E o copo está arranjado, e tudo graças a mim. Sim, eu prometo. Eu vou colar-te. Vou procurar a parte que se despegou de ti e vou dar-ta, com as faces rosadas, os pingos de suor a soltarem-se da testa, a escorrerem pelos olhos, a lágrima no canto do olho, o chapéu ao peito e vou esperar que queiras vir comigo, pois eu hoje prometo-te levar-te a ver o Universo, mas há um senão: não podemos mais voltar. E eu sei que não podes deixar tudo para trás.
Orquídea minha, reguei-te estes 104 dias, e se tu não vais comigo, eu não vou de todo. Porque há quem te possa regar todos os dias para além de mim, mas ninguém pega nas pétalas com o cuidado que eu pego.

E apetece-me apagar este post.

E sim, nunca a música veio em primeiro lugar num post com texto.