terça-feira

Inês dos caracóis pró-apopléticos

Nunca fui bom nas artes plásticas. Nunca fui daquele tipo de pessoas que se abstraía  a pintar ou a desenhar, talvez por falta de engenho, talvez porque nunca quis desenvolver as minhas capacidades nesse campo, pois preferia fazer as pessoas imaginarem, ao invés de lhes espetar a coisa na frente dos olhos.
Porquê? A resposta é simples. A imaginação é uma das armas mais poderosas que o ser humano possui. E lá porque não pinto, não quer dizer que eu não tente, a cada dia que passa, moldar toda e qualquer palavra, da forma mais bela que eu possa.
Talvez tu sejas bom nas artes plásticas. Talvez tu saibas moldar formas. Portanto, prepara a tua aguarela e junta-lhe a imaginação.
Imagina o mundo real. De entre os biliões de pessoas, escolhe uma. Aquela rapariga que te chega pelo queixo. Aquela rapariga a quem tu pedes para não roer as unhas, porque as mãos dela são demasiado suaves e belas para serem deformadas. As mãos que tu queres segurar e acorrentar a ti, porque não mais as queres largar. Passa-lhe a mão pelo cabelo. Sente os longos caracóis que te deixam apoplético. Olha-a nos olhos, vê-a a olhar para ti com aqueles pequenos olhos, por cima das lunetas, e com um sorriso do tamanho do mundo. Encosta o teu nariz ao dela, nariz esse que se encontra no meio das suas bochechas rosadas. Abraça-a, abraça-a com toda a tua força, porque amanhã pode haver alguma coisa que vos separe. E suas como tudo, sentes o calor um do outro, de corpo para corpo. Sentes as larvas do estômago a metamorfosearem-se, a tornarem-se borboletas com a chegada da Primavera. Sim, isso é o amor.
E não, ela não é perfeita. Mas é a coisa mais bela que já viste. Mais querida, que te prende. E no final do dia, ela vira-se para ti e diz: “gosto muito de ti”. E tu tens um ataque cardíaco.
Sim, é o amor. E é a coisa mais bela do mundo. A tela que todos querem pintar, mas nem todos conseguem. Eu consegui, e posso não ter pintado uma aguarela, mas escrevi o melhor texto que já alguma vez pintei. Para ti, que tudo és para mim. Para ti, Inês. E ai de ti que fujas da minha vida. Pelo menos deste texto já não foges.