terça-feira

Hoje estava a precisar de escrever. Sei lá, precisava de deixar fluir algumas palavras. Estas que escrevi até agora são só palavras colaterais. Palavras que me tive de pôr a escrever só para explicar o porquê das palavras que vêm em seguida. Palavras que o meu cérebro seleccionou cuidadosa e instantaneamente. Instantaneamente como o crescimento da relva lá na Rodrigues Lobo, que aquilo a semana passada estava tudo castanho e hoje estava tudo verde (e com um tamanho considerável).
Hoje estive a pensar. Na minha vida, sabem? Estive a pensar em todos os obstáculos que se nos atravessam à frente, em todas as rampas que subimos, em todas aquelas pequenas coisas que às vezes pisamos por não as vermos (dah, elas são pequenas, ya?). Estive um quanto tempo a pensar nisso. A par e passo, fui fingindo que prestava atenção a aulas, que respondia a perguntas, que fazia exercícios. Que corria, que saltava à corda. Que ouvia conversas. Que ouvia as vozes dirigidas aos meus ouvidos. Passei um dia de fingimento. Mas chego ao fim do dia e deixo a mentira. Admito. Admito tudo. Admito que apesar de não parecer estava distraído, ausente, distante. Fui numa daquelas minhas viagens à lua, em que só levo a cabeça, e ela lá fica, a pairar no nada. Porque... Sejamos racionais? O que é que existe ali? Nada! A única coisa que podes fazer lá, é olhar para o mundo, ver como ele é bonito e imaginar as pessoas de quem tu gostas, com quem te preocupas, do tamanho de uma formiga, marcados com uma cor qualquer. Sei lá, se quiseres pode ser vermelho. Da cor do gostar. E vês as pessoas movimentarem-se cá em baixo de lá de cima, e queres tocar-lhes, abraçá-las, falar e rir com elas, mas não podes. Porque o tempo não deixa.
A vida é tão lixada, pá, já viste? Queres ser o dono do mundo, queres que o mundo real seja o teu mundo, e não pode ser. Se o mundo real fosse meu, toda a gente era escritora. Só porque eu queria. Porque escrever faz bem, e eu gosto de ver as pessoas de quem gosto e com quem me preocupo bem. E quero ver-te bem. E está frase dirige-se a todas as pessoas com quem alguma vez já me preocupei, de quem já alguma vez gostei. E este gostar não se restringe a amar. Quer dizer, restringe, se tu fores como eu e acreditares que "amizar" é uma forma de amar.
Sabes? A vida é como um bocado de plasticina. Todos lhe metem a mão, mas só os mais ágeis, só os mais perspicazes são capazes de a agarrar, segurar e moldar ao seu gosto. Era bom que o mundo também fosse assim. Era demasiado bom.

1 comentário:

ana silva disse...

"A vida é como um bocado de plasticina. Todos lhe metem a mão, mas só os mais ágeis, só os mais perspicazes são capazes de a agarrar, segurar e moldar ao seu gosto." lindo!