domingo

Slow Motion Story 1 - O espantalho e a boneca de porcelana

Quando eu era pequeno, e já depois de o meu pai falecer, a minha mãe dizia-me sempre para ter o cuidado de não me apaixonar por uma boneca de porcelana. De facto, quando um espantalho e uma boneca de porcelana se cruzam, a probabilidade de nascer uma boneca de porcelana é de apenas 25%, o que torna as bonecas de porcelana únicas e especiais. Isto aumenta o número de espantalhos que procuram satisfazer uma mesma boneca de porcelana, e a minha mãe queria que eu não sofresse.
Há uns meses, conheci alguém. Nesse dia, ela tinha um vestido preto que lhe ficava perfeito. Metemos conversa um com o outro e acabámos por trocar contactos. A amizade foi crescendo a uma velocidade estonteante e depressa um sentimento que os espantalhos não sentem, pelo menos em 99% dos casos, foi crescendo. A minha avó disse-me que os Homens chamavam-lhe de amor, que o sentiam a toda a hora e não paravam de falar sobre ele. Acabei por perceber que ela tinha razão, algum tempo mais tarde, e que a cada dia esse dito "amor" estava a crescer.
No entanto, descobri que ela era uma boneca de porcelana, no dia em que ela apareceu à minha frente, do nada, de camisola, casaco, saia e collants pretos, sapatos de salto alto e um chapéu azul com uma flor, de lado. Fiquei sem saber se seguia em frente ou dava ouvidos à minha mãe, mas acabei por decidir ignorar a segunda opção e vim a descobrir que ela já tinha par.
Apesar de tudo, algo de estranho aconteceu. Ela soube das minhas intenções e disse-me que gostava que um dia eu pudesse ser o seu par. E eu, peguei no meu chapéu de palha, encostei-o ao peito com a mão esquerda, estendi-lhe 5 pequeninos bocados de madeira e ela dançou comigo.
Hoje olho para trás. Não sou o par desta maravilhosa boneca de porcelana, mas não vou deixar que a partam. Nem que a tenha que pôr na prateleira mais alta da estante, onde só chego se subir a um banco da cozinha.

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