terça-feira

Short story number three – I was cheating on you

Afonso entrou no quarto de pensão onde eu estava, juntamente com Cristina.
- Mariana, vai-te embora. Deixa-nos falar. – disse-me Afonso. E foi isso que fiz. Quero dizer... Mais ou menos. Eu queria ouvir aquela conversa. O resultado daquela conversa iria decididamente definir o meu futuro.
Eles estavam a discutir, e alto o suficiente para se ouvir em toda a pensão. Ou seja, eu não precisava de estar ali para ouvir aquilo.
- É verdade? – perguntou, desolado, Afonso.
- O quê?
- Tu sabes muito bem! Não te faças de desentendida, porra!
- Desculpa?
Pensei naquele momento que ia ser muito mais difícil separá-los do que aquilo que eu estava à espera. Mas depois... Eu tinha dado os conselhos certos. A um e a outro.
- Eu sei que tu me traíste.
- Como?
- Admite!
- Ok. Eu admito. Eu traí-te. Estás mais contente agora?
- Eu não acredito. Ainda por cima com o Carlos! O meu melhor amigo? Puta de merda!
- Desculpa?
- Sim, és uma oferecida. Puta de merda!
- Pára de me falar assim!
- Sabes que mais? Está tudo acabado entre nós.
E ele saiu porta fora. Desceu as escadas e atrás dele desceu ela.
- Afonso! – ouvi-a gritar. Eu fiquei no meu cantinho, a agradecer a Deus por tudo ter corrido como eu esperava.
De repente. Ouvi um carro a travar, seguido de um estrondo.
Desci as escadas, com medo que Afonso tivesse sido atropelado.
- Cristina! – ouvi Afonso gritar. Merda, pensei. Afinal foi ela. Deus queira que morra.
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Olhei para o chão. O sangue de Cristina escorria para o chão, como um rio que flui naturalmente, a caminho do oceano, onde só há paz.
Os cabelos castanhos de Cristina poisavam no alcatrão, despenteados, como se ela tivesse sido electrificada. Ou tivesse visto um fantasma. Mas fui eu que vi um fantasma. O fantasma que fizera com que eu fosse atropelado tinha ido atrás da mulher que eu mais amo.
Agarrei na sua mão direita e disse-lhe que não se preocupasse, pois tudo iria ficar rapidamente bem. Ao mesmo tempo, a condutora da carrinha branca chamava uma ambulância, com uma voz quase tão assustada como a minha.
Cristina pediu-me que chegasse a cabeça perto da boca dela. Tentou murmurar-me qualquer coisa, mas eu não quis ouvir. Disse-lhe para não falar, pois podia ser pior.
Tirei da mochila que carregava às costas uma pequena garrafa onde tinha uns 20 cL de álcool. Bebi-os de um só trago, como se fosse um shot, e esperei que a minha dor interior ficasse menor. Não ficou. A cabeça de Cristina girara ligeiramente, e agora a sua face rosada direita jazia sobre a tinta branca da passadeira. Encostei o ouvido junto da zona do seu nariz. Ela não respirava.
- MERDA!
Tentei aplicar o que aprendera uns meses antes nas aulas de primeiros socorros (antes de ser nadador savador nas férias de Verão) mas ela parecia não responder ao meu chamamento.
Ela estava... Morta.

Dia do funeral. Enquanto me despedia de Cristina, olhando o seu rosto angelical, senti alguém aproximar-se de mim. Respirava pesadamente, e logo me virei para trás, para poder encarar o seu rosto.
Era Mariana. Aproximou-se um pouco mais de mim e disse:
- Desculpa, eu só estava a tentar...
- O que se passa, Mariana?
- Eu menti-te. A Cristina não te traiu.

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