segunda-feira

Eu costumava pensar que as coisas eram fáceis. Costumava pensar que era fácil ser-se humano. Costumava pensar que tudo era tão fácil. A vida. Costumava pensar que podia fazer tudo à minha medida. Costumava pensar que era fácil pré-visualizar o que eu achava que ia ser o meu futuro, e pensar que nada seria diferente do passado.
Costumava pensar que era sempre tudo igual. A chamada rotina era, de facto, uma rotina. Pensava isso, juro que pensava. Juro que pensava que tinha tudo na minha mão. Pensava que tinha o mundo a meus pés se estalasse os dedos.
Enganei-me.
E hoje sei que o dia muda de dia para dia. A rotina não é uma rotina. As coisas mudam todos os dias. Todos os dias fazemos acções que mudam tudo. Por exemplo, se eu decidir não ir jantar agora, depois de escrever este texto, vou provavelmente para a cama com dor de barriga. Se eu decidir não lavar a loiça hoje, amanhã de manhã ela espera-me, e sei que vou ouvir a minha mãe a reclamar por isso. Sei que se eu for um assassino em série, vou alterar uma vida, e depois outra, e depois outra, e mais outra, e ainda mais outra. Um número interminável de vidas vão ser alteradas, por cada pessoa que eu assassinar. Bem, umas mais que outras, mas acaba sempre por alterar tudo.
E eu sou assassino em série. Sem a parte do assassino. Aliás, todos nós somos. Todos nós mudamos alguma coisa por cada acção que tomamos. E às vezes pensamos que não. E às vezes queremos as coisas tanto que nem queremos saber que as pessoas se calhar podem não querer o mesmo que nós, ou podem simplesmente querer pensar se querem ou não. E acabamos por as sufocar. E eu espero não estar a sufocar-te, porque um dia terás eventualmente que morrer, mas eu espero que não seja por minha causa.

1 comentário:

wind whisper disse...

Nem sempre o Efeito Borboleta afecta as flores. E nem sempre sufocamos as flores quando as cobrimos. Às vezes aquecemo-las!