quinta-feira

Prendes-me com o teu olhar, Matilde. Prendes-me com o teu olhar. Quando te olho nos olhos a vontade de ficar é ainda maior. E apesar de nunca me teres agarrado pelo braço, eu já acabei por não me ir embora por me teres prendido com o teu olhar. Prende-me só mais uma vez.

Página em branco

" Sabes? Acho que te vou telefonar outra vez... " Se tivesse uma máquina do tempo voltava atrás e tinha ligado mesmo. Tinha sido homem. Tinha-me lixado para a indisposição causada por ter a barriga (não o estômago) às voltas. Tinha pensado nas tuas mãos, nas unhas das tuas mãos ou nas unhas dos teus pés, lembrar-me como elas brilharam na quinta feira, juntamente com as tuas próprias mãos e os teus própios pés, e tinha ligado. Talvez nessa altura tu me terias dito: "Não te preocupes se não responder nos próximos dias. Vai estar tudo bem, mas vou ter montes de coisas para fazer".



Porquê o título em cima? Porque se reparares bem, este texto foi escrito numa folha em branco. E a folha assim permaneceu. É só mais uma página em branco. Ou noite, ou dia. Aquilo que lhe quiseres chamar.
Pára. Olha à tua volta. Sei que não vês nada. Está escuro. Tropeçaste nalgum lado e agora o teu pé esquerdo dói ainda mais. O facto de teres sido operada deixou-te mesmo triste. Ainda assim, fazes o que te digo para fazer, porque não te apetece ouvir, não te apetece falar, não te apetece fazer absolutamente nada, mas sabes que quero ajudar-te.
Olhas à tua volta. Dizes-me que não vês nada. Está escuro. Sentas-te no chão. O teu pé não te deixa andar mais que meio minuto seguido. Estendes as pernas e encostas-te à parede. Carregas no interruptor. Olhas para os pés da cama. Dizes:
"Já percebi. Já vi."
Eu pergunto-te o que é que viste. Tu respondes:
"O que interessa neste momento não é o que está à minha volta, ao nível dos meus olhos. É aquilo que está ao nível dos meus pés. Aquilo que é difícil encontrar. Tal como a minha câmara fotográfica ao fundo da cama".
De facto, desde a primeira lição de voo que só pensas em voar. Esqueces-te que há coisas importantes escondidas. E não as queres procurar. Talvez porque sabes que elas lá estão. Sabes que mais? Podes não ter entendido isso, mas precisas tanto delas como elas de ti para fazerem alguma coisa. Por exemplo a tua câmara. Ela precisa tanto de ti para fotografar quanto tu dela para veres... hum... mais além.
Não espero que entendas completamente a mensagem do texto. Não espero que alguém consiga encontrar todos os significados escondidos. Não vos substimo. Apenas sei que ninguém os vai encontrar a todos porque até eu próprio perdi alguns. Mas aquilo que era preciso tu entenderes, Daniela, está aí. À vista dos olhos. Juro que não tens de procurar.

quarta-feira

Gosto de tudo em ti. Gosto especialmente de dar conta que pintaste as unhas. E adoro o teu sorriso quando te digo que percebi que pintaste as unhas.
Gosto da maneira como sorris. É. Adoro a maneira como sorris. Seja por mim ou não, adoro. Simplesemente adoro.
Gosto das tuas mãos. E o verniz torna-as ainda mais brilhantes. Com mais cor. Que só as tuas mãos têm.
Somos todos tanto mais do que aquilo que pensamos. Mostramos tanto mais do que aquilo que pensamos mostrar. Dizemos tantas coisas que passam ao lado de tantas pessoas. Mas os mais atentos dão conta! Os que nos conhecem melhor dão conta! E tu... Eu sei que tu deste conta. E agora, depois de teres a confirmação... Não dás sinais de vida.

Só te peço um: "Estou bem". Nada mais.

Corri para o telemóvel. Acabei de receber uma mensagem. Esperei ver o teu nome, mas afinal não. Merda. Diz alguma coisa :/